segunda-feira, 4 de junho de 2012

Nosso templo, nosso orgulho, nossa ruína

"E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje" (Mt 11.23, ARC).

Cafarnaum era um pequena, porém, próspera cidade praticamente às margens do Mar da Galileia. Era uma cidade geograficamente estratégica pela proximidade com uma fonte assim, tão vasta em água, e por estar na chamada rota do incenso, produto manipulado no sul pelos árabes e comercializado no norte, na atual região da Síria.

A sinagoga de Cafarnaum era o marco da prosperidade local. Dois indicadores apontam para isso. O primeiro era o material do qual era feita a sinagoga. Ao contrário da pedra escura, quase preta, das casas da cidade, a sinagoga de Cafarnaum fora edificada de uma pedra clara (vide foto acima), seguramente importada por seus habitantes, importação financiada por ilustres moradores orgulhosos de suas doações.

O segundo indicador é a posição na qual a sinagoga se situava em relação às demais edificações locais. O ponto mais alto das moradias de Cafarnaum atingia no máximo a altura do piso da sinagoga, ou seja, como sede religiosa a sinagoga se destacava e se impunha na paisagem local, informando a presença de uma comunidade rica, supostamente abençoada e protegida por Deus e, portanto, no caminho certo e seguro de uma vida espiritual sólida. Essa é uma boa expressão do que a sinagoga transmitia: a segurança do povo de Cafarnaum que, por sinal, era o orgulho da cidade.

Jesus destacou tal segurança num de seus discursos ali, mas o fez por um viés negativo. O versículo que citei acima, "Cafarnaum... que te ergues até aos céus", aponta para a grandiosidade da sinagoga, como também o seu luxo. A confiança depositada numa instituição, mais que isso, numa edificação (um prédio), para nada serve; ainda hoje é assim. E como temos repetido esse erro apegando-nos e recorrendo aos mesmos expedientes? As igrejas evangélicas nos últimos anos redescobriram o caminho e a receita da suntuosidade estética da religião e não têm medido esforços para registrarem seu poderio por meio de suntuosos edifícios, até mesmo copiando o expediente usado em Cafarnaum de importar pedras (como a história se repete!). A parte inicial da zona leste em São Paulo que o diga! Parece que esse compromisso com a aparência é um vírus difícil de vencer, ao menos em alguns grupos cristãos que contabilizam boa arrecadação.

Por outro lado, a palavra dada por Jesus orienta-nos que nada mudou: a confiança na aparência, na estética, na suntuosidade não levará o homem até aos céus, como já pensavam os construtures de Babel, outra edificação que representou o orgulho e igualmente arruinou o gênero humano. Edificar em nós uma casa para o Senhor é a proposta mais segura para uma vida cristã. O menor sinal de confiança no mais discreto sinal da grandeza de Deus pode gerar efeito mais positivo no âmbito espiritual. E como tem sido difícil aprender isso!

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5 comentários:

  1. Bom texto, meu amigo. Como sempre.

    É de nos deixar extasiados a maneira como Jesus encarava esta ostentação. Os discípulos estavam encantados com a beleza do Templo, aquele outro, que tinha ouro revestindo suas paredes. E Jesus diz: não ficará pedra sobre pedra... E ainda mais: dá as costas ao "templo" em dia de festa para visitar o tanque de BETESDA, onde estão os doentes. Ou seja, o templo é outro!

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  2. Aécio, muito interessante o modo como você colocou o interesse de Jesus: Dá as costas ao templo para visitar o tanque. Muito bom! Grato pela "visita" aqui.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Professor, o problema, nao so da lideranca mas da Igreja como um todo, e que nao sabem que o verdadeiro templo do Senhor tem dois Atrios e dois Ventriculos. Local onde nascem os dois grandes mandamentos.

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  5. Pastor Magno...excelente esplanação...inclusive foi tratado em nossa ultima aula na ETM.Deus continue o abençoando e sendo a "boca de Deus" nestes ultimos dias. Patricia Alonso

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