quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Tolerância e apologética

Ano passado postei aqui uma reflexão sobre tolerância e intolerância nos nossos discursos cristãos. A experiência que tive naquela ocasião foi das mais frutíferas nos últimos anos, pois esgarçou-me os olhos para perceber o quanto somos combativos em questões que deveríamos ser pacíficos e mansos.


O fato de "dever ser pacifico" não implica em ser "imparcial" nem tampouco "indiferente". Pacificidade é a qualidade ou virtude de promover a boa convivência, a cooperação e também a tolerância. Repito: isso não significa ceder nas questões cruciais; não significa abrir mão de valores; não significa inclinar-se à opinião contrária.

A postura combativa que nos é tão peculiar tem raízes, muitas delas estrangeiras, trazidas dos missionários norteamericanos que nos evangelizaram. A mentalidade do norteamericano na ocasião da expansão missionária do século dezenove era a da conquista do mundo (e parece não ter mudado muito desde então). A postura era, portanto, combativa, conquistadora, "libertadora". Veja reflexo disso nos hinos tradicionais da Harpa Cristã e Cantor Cristão, por exemplo. As letras inspiram ao combate, incitam os cristãos a marcharem, avançando contra o mal, arvorando estandartes!

Soma-se a isso a presença igualmente combativa da Igreja Católica e os confrontos que se seguiram por décadas, quando precisavámos atacar suas doutrinas para estabelecer a nossa. Resultado: os cristãos tupiniquins aprenderam que crente bom é crente valente, confrontador, que ataca a tudo e a todos. Nessa esteira vieram, recentemente, os ministérios de batalha espiritual. Uma nova geração com o mesmo comportamento, agora agravado: já não bastava batalhar contra católicos, umbandistas e kardecistas. Era preciso dominar os demônios por trás desses sistemas na batalha contra o invisível, apesar de que muitos afirmaram "ver" o mal contra o qual combatiam.

Com tudo isso, removemos da pauta evangélica tudo o que inspirasse a mansidão, a pacificidade e a... tolerância. Tornamo-nos intolerantes depois de criarmo-nos agressivos e, com isso, desconsideramos a atuação do próprio Espírito Santo na vida daqueles com os quais convivemos e a quem desejamos vê-los salvos. Assim, não enxergamos o próximo como a alguém a quem precisamos demonstrar naturalmente a importância e o valor da presença de Cristo em nossas vidas, mas contra quem precisamos guerrear. Vez ou outra miramos para dentro de nossa própria casa, atacando os nossos. Absurdo!

O contexto do evangelho, tanto nas palavras de Jesus como de Paulo, indicam que há um modo de apresentar o evangelho sem confrontação. Evidentemente não há uma norma única para isto, mas há situações nas quais somente assim haverá repercussão. É atribuída a Francisco de Assis a máxima: "Pregue a todo instante. Se precisar, use palavras".

Percebo que o momento é de reaprender a apresentar a fé cristã, sob risco de ficarmos falando sozinhos. "Jesus é a resposta, mas quem está perguntando?" Alguns dirão que vale a pena manter-se assim, combativo, pois sempre haverá que ouça discursos mais acalorados. Mas note que os que nos ouvem têm sido os de dentro. Nossos programas de televisão, rádio e internet são feitos para a própria Igreja, às vezes a igreja local! A Igreja, no entanto, foi chamada desde os primeiros apóstolos para falar aos de fora. E "os de fora" encontram dificuldades em ouvir intolerantes.

A violência e a agressividade tem encontrado cada vez menos espaço na sociedade, caracteristica da pós-modernidade, salvo naqueles meios onde a tônica é o sensacionalismo, gente cheia de si. Jesus, no entanto, veio para os doentes, que se reconhecem carentes, não de gente que se imagina dona da razão, autosuficiente.

Quer ter êxito no discurso cristão? Procure os doentes, fale aos necessitados, aos abertos ao diálogo, ávidos pelo Evangelho. Não há resultados satisfatórios em ministrar remédio a gente sadia. E doentes não podem ser tratados com agressividade nem intolerância.

Será que conseguiremos nos empenhar no cultivo de uma nova mentalidade? Nós que já passamos pela metanóia descrita em Romanos 12.1,2, saberemos rever e renovar nossa própria postura frente aos novos desafios apresentados pelo mundo?

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