terça-feira, 8 de junho de 2010

Igreja boa para os de dentro não é boa para os de fora?


Lemos nos evangelhos que Jesus, vez ou outra, chamava reservadamente a três de seus discípulos para ensinar-lhes ou revelar-lhes algo novo. Numa dessas ocasiões, levou-os a um monte e transfigurou-se diante deles, e na transfiguração apareceram também Moisés e Elias. Pedro – por que sempre ele? – logo sugeriu isolar a área fazendo três cabanas, uma para Moisés, uma para Elias e outra para o próprio Jesus. Esqueceu-se de si e dos outros dois confrades.


Esqueceu-se? Na verdade, Pedro esqueceu-se de tudo e de todos. A sensação agradabilíssima promovida pela nova experiência deslocou-o do centro da visão do profícuo ministério que Jesus desenvolvia nas cidades de Israel. “Que temos nós com eles?”, deve ter pensado – “deixe-os lá, raça obstinada. Vamos aproveitar isso aqui enquanto está tão bom!”.

É isso, a igreja, quando fica boa para os de dentro, tende a ser impeditiva para os de fora. Há muitos anos experimentei isso em meu próprio ministério, quando pastoreei uma igreja em S. Paulo. As festanças, as confraternizações e as reuniões, por boas que eram para nós de dentro, isolavam os de fora e blindavam-nos do interesse em trazê-los para dentro – gente nova deverá atrapalhar nossos planos. Até que nos tornamos nossos próprios problemas e, de tanto olhar para nós mesmos, começamos a depararmo-nos com nossos muitos defeitos.

A igreja muito confortável para os de dentro, muito receptiva e acolhedora para seus membros, tende a acomodá-los e, com isso, foge ao seu propósito vital que é “sair”. Seu próprio nome ensina isso: ecclesia que dizer em grego sair para ou sair de. Sair de dentro do judaísmo, sair para as nações, para os não-alcançados, sair em busca dos perdidos.

As festas, obviamente, não são o problema. O Antigo Testamento promovia festas memoriais, com efeitos didáticos, pedagógicos e de reflexão e aproximação do povo com o seu Deus e eram pontuais, não subsequentes, intermináveis. Mas nossas festas têm tido essa finalidade? Nossas reuniões lembram-nos de que o cristianismo veio à existência para livrar do cárcere o oferecimento da salvação para os de fora? Para lembrar que essa salvação era para todos os povos e não um privilégio exclusivo da nação de Israel? E mesmo a igreja primitiva, quando se acomodou em Jerusalém, foi alvo de uma perseguição após a pregação de Estêvão e perseguição tal que a fez cumprir a missão de levar a mensagem do Evangelho aos gentios.

Fico preocupado quando vejo igrejas anunciando medidas e reformas, aquisições e investimentos, sem fazer qualquer menção à sua missão de edificar os membros e alcançar os perdidos.

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